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Serão os Consumidores os novos Produtores de Energia Elétrica?

Opinião

Serão os Consumidores os novos Produtores de Energia Elétrica?

Nos últimos anos, verificou-se uma profunda modificação na estrutura do mercado elétrico, graças à integração de recursos energéticos distribuídos

Nos últimos anos, verificou-se uma profunda modificação na estrutura do mercado elétrico, graças à integração de recursos energéticos distribuídos.

Entre os inúmeros desafios impulsionados pela constante revolução tecnológica e pela necessidade de se continuar a garantir o melhor preço e qualidade aos consumidores, as comercializadoras de energia definiram novas medidas de forma a conduzirem todo o setor em direção a um futuro mais inovador e de acordo com as novas tendências.

Se, atualmente, a produção e o fornecimento de eletricidade tradicional ainda se encontram num sistema centralizado, no qual existem grandes geradores de energia a fornecerem a maior parte da eletricidade produzida, esta situação está prestes a mudar. Com o aumento da adoção de sistemas de micro geração, onde os produtores domésticos de energia assumem um papel mais ativo, em vez do atual sistema centralizado, os consumidores que possuem unidades de micro geração poderão assim vender o seu excedente energético numa rede “peer-to-peer” a outros participantes da plataforma. 

Neste contexto, os consumidores tradicionais de eletricidade tornar-se-ão prosumers, sendo consumidores, mas também participantes ativos na produção da energia, ou seja, serão também produtores em pequena escala, mas que, de forma distribuída, irão contribuir para uma parte significativa da produção de energia elétrica. Mas, em vez de a adquirirem a um só fornecedor, os consumidores vão comprar e vender eletricidade num mercado aberto, onde a origem da energia terá mais variações dada a distribuição por pequenos e intermitentes produtores. Esta alteração, minuto a minuto, do seu efetivo fornecedor vai criar oportunidades de negócio que aumentem a escolha do consumer e estimulem eficiência sistemas, da utilização de energias próximas, limpas e mais baratas.

Dada a imprevisibilidade característica da energia produzida de fontes renováveis, o armazenamento e a disponibilização, em rede, de energia entre os diversos utilizadores, constitui um modelo peer-to-peer que vem alterar o modelo unidirecional estabelecido da energia. O peer-to-peer foi já aplicado a vários setores, nomeadamente o alojamento temporário (AirBnB) e até mesmo na mobilidade urbana (Uber), surgindo assim novos protótipos que testam a sua aplicabilidade no mercado de eletricidade.

Por exemplo, no ano de 2015, no Reino Unido, foi testada uma plataforma de comercialização de energia renovável - Piclo, que permitiu aos consumidores comprar eletricidade proveniente de produtores de energia renovável, tendo como intermediário uma empresa comercializadora de energia. Na Alemanha, o projeto sonnenCommunity possibilita aos seus membros comercializar energia fotovoltaica entre os seus associados, sendo que para acederem à plataforma, é necessário pagar uma taxa mensal pela utilização da plataforma. Na Holanda, a plataforma peer-to-peer Vanderbron permite aos consumidores escolher o seu próprio fornecedor, através de uma plataforma online. 

No que diz respeito a Portugal, não existem modelos de negócios focados na comercialização de energia peer-to-peer, mas em 2018 portugal participou no projectos europeu, Flexigy (do qual a Energia Simples participa), que testa o desenvolvimento de um sistema de gestão das transações virtuais de energia. Contudo, o conceito de criar um processo de comercialização de eletricidade mais transparente, fácil e simples torna-se, rapidamente, uma exigência por parte do mercado, sendo que a velocidade com que certas inovações e tendências se têm vindo a desenvolver em alguns países são assimiladas e disseminadas por todo o mundo, a uma velocidade nunca antes vista. Por sua vez, o consumidor deve ter a possibilidade de decidir a origem da sua eletricidade e é, por isso que será necessário redefinir o papel clássico do fornecimento de energia.

Esta tendência vai permitir a criação de uma relação direta entre os consumidores de energia elétrica e os produtores de energia renovável, nomeadamente eólica, fotovoltaica, mini-hídricas, entre outras. Para além disso, os prosumerstambém poderão vender os seus excedentes a consumidores interessados, criando assim uma comunidade de energia verde. Desta forma, estes serão aqueles que terão na sua habitação ou negócio sistemas de produção de energia renovável (fotovoltaico) e/ou armazenamento em baterias que irão permitir o armazenamento para utilização própria ou até mesmo para fornecer a terceiros, através da injeção na rede, recursos energéticos armazenados em baterias, podendo até servir, inclusivamente da bateria de alguns automóveis elétricos. 

Neste sentido, o consumidor vai poder escolher o produtor e estabelecer o seu próprio contrato de energia, sem que exista a necessidade de ter outro contrato com fornecedores tradicionais de eletricidade. Assim, no futuro, muitas das grandes empresas de eletricidade poderão ser substituídas por milhares de produtores individuais, que por sua vez também serão fornecedores de eletricidade.

Porém, atualmente, em Portugal, os produtores de eletricidade não podem comercializar energia auto-produzida diretamente ao consumidor, sendo necessário a presença de uma comercializadora que possa desempenhar o papel de intermediário, realizando a gestão de todos os processos necessários. E este, é assim o principal desafio das comercializadoras de eletricidade ao assumirem a responsabilidade de adquirir/ gerir e fornecer energia aos consumidores nos períodos de produção insuficiente de eletricidade pelo produtor escolhido. 

Por outro lado, a grande vantagem deste modelo de contratação, em comparação com uma comercializadora tradicional é o facto do consumidor, para além de escolher o seu fornecedor de energia, pode também escolher a origem desta. Deste modo, o modelo de negócio proposto visa tornar o processo de venda de energia ainda mais simples, transparente e eficaz. 

De facto, com a criação das plataformas peer-to-peer para comercialização da energia renovável, que acredito que poderão ser implementadas em Portugal muito em breve, poderemos ser um dos países pioneiros graças às características geográficas do nosso país, ao nosso quadro legislativo e até mesmo ao nosso desenvolvimento tecnológico, que nos irá possibilitar aproveitar e otimizar os recursos de distribuição e de produção existentes no país.

Se nunca imaginou que um consumidor poderia ser também um produtor, num futuro próximo poderá bem sê-lo. 

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