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Digitalização do setor da saúde em Portugal teve “um progresso assinável”

Digitalização do setor da saúde em Portugal teve “um progresso assinável”

Em entrevista, Ricardo Constantino, Head of Health and Public Sector da NTT Data Portugal, esclarece o potencial de transformação da tecnologia associada aos cuidados de saúde primários, entre desafios e conquistas

Depois de uma passagem pelo Building the Future 2023, onde subiu a palco sob o mote “a new patient-centric technology-enabled primary care journey”, Ricardo Constantino, Head of Health and Public Sector da NTT Data Portugal, esteve à conversa com a IT Insight sobre o potencial da tecnologia na transformação dos cuidados de saúde primários.

Sobre o atual estado da digitalização do setor da saúde em Portugal, o responsável afirma que tem havido “um progresso assinável”, pelo que “as instituições já utilizam sistemas de informação para suportar grande parte dos seus processos administrativos, financeiros e clínicos, existe uma solução centralizada para a partilha de dados de saúde” e “um processo de prescrição de medicamentos e meios completares de diagnóstico quase totalmente desmaterializado”, “teleconsultas disponíveis e linhas de atendimento”, seja no setor público, seja no privado.

Contudo, ainda há um caminho a percorrer “para atingir os resultados a que se propôs com este processo”, tendo em vista melhorar a acessibilidade, a eficiência e, “mais importante, melhorar a saúde dos portugueses”. Aqui, Ricardo Constantino afirma haver uma falta de “visão sistémica de como é que estas soluções podem ser usadas para ultrapassar os desafios que se colocam à saúde”.

O responsável exemplifica: “como é que a utilização conjunta de várias tecnologias e processos pode reduzir ou eliminar os tempos de espera nas urgências? Se não tivermos uma solução integrada que responda à necessidade de o cidadão ter acesso a um médico num tempo aceitável, os resultados serão sempre reduzidos”. 

Além disso, é “preciso apostar na integração entre os vários operadores de saúde públicos e privados”. Em Portugal, metade da população utiliza os serviços de saúde públicos e os privados de “forma combinada”, com “mais de cinco milhões de pessoas com seguro privado de saúde ou que pertencem a um subsistema de saúde”. Mas, para que exista “uma visão única sobre cada cidadão é necessário que se avance na digitalização da troca de informação de saúde entre os diferentes operadores”.

Adicionalmente, espera-se que a Inteligência Artificial (IA) tenha “um impacto muito relevante na forma como serão prestados os cuidados de saúde nos próximos anos”, área na qual o país se encontra atrasado. “Temos de ter sempre a ideia de que o registo da informação não é um fim em si mesmo, mas sim algo que pode ter múltiplas utilizações posteriores”, acredita.

A digitalização apresenta-se, aqui, com um forte potencial de mudança de paradigma. Apesar dos tempos de espera nas urgências e marcação de consultas dar indícios de um atraso na implementação da tecnologia e digital no setor, “se analisarmos os anos de pandemia vemos que existiu um aumento muito significativo da utilização das soluções de teleconsulta” e que “as pessoas estão disponíveis para usar este tipo de soluções”. 

Porque na saúde a relação do cidadão com o profissional “é essencial”, a criação de soluções que “permitam uma interação digitalizada são fundamentais e basilares para a criação de um novo paradigma na saúde”.

Para o efeito, Ricardo Constantino reitera que “não existe um tipo de tecnologia que seja por si só disruptivo” – “tem de ser a utilização combinada de vários tipos de tecnologia”. São várias as tecnologias que têm representado uma mais-valia no setor. Por um lado, na vertente administrativa, “os assistentes conversacionais e a robotização permitem automatizar e tornar mais eficientes determinadas tarefas”. Na vertente clínica, “a existência de repositórios de informação clínica padronizados têm sido uma mais-valia, na medida em que permitem criar repositórios centrais e separar as soluções de recolha de informação da solução que guarda de facto a informação”.

Também a utilização do speech-to-text num contexto de utilização generalizada, para registar a conversação durante uma consulta e transcrevê-la ou para registar a conversação entre profissionais durante uma cirurgia, aliada à utilização de IA, “terá um papel muito relevante na transformação da saúde”, levando a um registo padronizado da informação.

Neste contexto, a utilização da IA tem um “papel transversal” e é uma “mais-valia no setor da saúde” seja na utilização associada a assistentes conversacionais e speech-to-text, seja para a identificação de doenças e diagnóstico, investigação de medicamentos e apoio à decisão clínica, explica o responsável da NTT Data Portugal. 

Em particular no caso português, uma parte muito significativa das unidades de saúde já tem soluções tecnológicas para suportar a sua atividade, mas o desafio da generalização e da melhoria dos dados registados nas soluções permanece, conta.

A utilização das soluções passa por uma aumento da literacia digital dos profissionais de saúde, que Ricardo Constantino considera “essencial” para se “conseguir retirar todo o potencial dos investimentos feitos nestas áreas”. Para responder a este desafio, os profissionais de saúde devem ser capacitados através de formação sobre as aplicações e funcionalidades, mas, também, deve ser feita uma sensibilização para as vantagens das soluções e as consequências que têm na forma como o trabalho é executado, explica o Head of Health & Public Sector NTT Data Portugal. 

Incluir a utilização destas soluções digitais na própria formação dos futuros profissionais de saúde revela-se, também, uma mais-valia. “Temos de garantir que os futuros profissionais têm a possibilidade de utilizar, durante a sua formação, as ferramentas e soluções que vão ter ao seu dispor quando iniciarem as suas funções profissionais”, afirma. O feedback deverá ser, ainda “incluído no desenho das soluções”. 

Ao dia de hoje, não existe implementação de tecnologia, sem desafios. No caso concreto da saúde, a complexidade dos processos e o número de agentes envolvidos são indicadas por Ricardo Constantino como um principal desafio. Num segundo plano, surge a criticidade de uma parte significativa dos processos, e, por fim, conseguir mostrar aos profissionais que a solução ou tecnologia permite melhores resultados, esclarece.

O Head of Health & Public Sector NTT Data Portugal acredita que o futuro se mostra promissor. “Temos excelentes condições para que o futuro da saúde em Portugal tenha uma evolução muito positiva. Temos profissionais altamente qualificados, com reconhecimento mundial, quer na área clínica, quer na área tecnologia, temos uma dimensão, enquanto sistema, muito interessante para testar novos modelos e por último, temos uma oportunidade para fazer esta transformação, nos próximos anos, com os fundos do PRR e do PT2030”.

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