Em entrevista com a Smart Planet, Engº João Paulo Fernandes, Diretor-Geral da NEC Portugal, delineia as vantagens que a tecnologia de Open_RAN traz para as operadoras, para o mercado e para as smart cities, bem como o panorama de adoção da mesma a nível mundial
Recentemente, a NEC deu a conhecer o seu projecto como integrador de sistemas no primeiro projeto piloto Open RAN a decorrer na Alemanha, na qual ajudou a definir uma arquitetura Open RAN customizada, otimizada e adaptada às exigências da rede móvel da Telefónica Germany. Neste contexto, Engº João Paulo Fernandes, Diretor-Geral da NEC Portugal, delineia em entrevista com a Smart Planet as vantagens que esta nova tecnologia traz para as operadoras, para o mercado e para as smart cities, bem como o panorama de adoção da mesma a nível mundial.
O que é a tecnologia Open-RAN, e que benefícios traz para os operadores? RAN significa Radio Access Network, uma das tecnologias fundamentais da rede de qualquer operador móvel. Até agora, uma característica importante das RAN dos operadores móveis é que as interfaces que constam todas as suas diferentes componentes – unidade de rádio de cada antena, unidades de concentração, e o core da rede – são proprietárias, exclusivas a um fabricante. Isto significa que, quando um operador faz a seleção de determinada solução tecnológica, todas as componentes da rede de acesso de rádio são tipicamente fornecidas pelo mesmo fabricante. Este movimento tecnológico de Open RAN, criado já há vários anos pelos principais operadores mundial, e ao qual já aderiram vários fabricantes, pretende criar aplicações abertas standardizadas, para que todas as interfaces possam ser iguais e únicas. Assim, se um operador implementar uma rede móvel com base na tecnologia Open-RAN, este poderá selecionar soluções best-of-breed de diversos fabricantes em vez de ser limitado por vendor lock-in. Uma característica muito importante do Open-RAN é que estimula o desenvolvimento de produtos para cada uma das componentes da rede de acesso rádio por parte de empresas que se especializam num único produto, em vez de terem de focar em toda a rede end-to-end. Isto estimula o aparecimento de startups que, pela sua inovação, conseguem oferecer soluções muito avançadas, muito inovadoras, orientadas para uma só componente da rede, mas que obviamente acrescentam valor às operações e serviços do operador. O que isto significa é que o Open-RAN faz evoluir o fornecimento destas redes de acesso rádio de um pequeno número de grandes fornecedores monolíticos que oferecem soluções end-to-end para um cenário de produtos best-of-breed em que o operador pode selecionar cada produto de acordo com o que de melhor existe no mercado para responder às suas necessidades específicas. A consequência é que o operador necessita agora de uma função de integração de sistemas, que anteriormente era realizado pelo fabricante. Outra coisa que a tecnologia também aporta é a introdução do conceito de virtualizarão da RAN. Muitos dos componentes, em vez de serem fornecidos como hardware físico, são fornecidos através da virtualização de funções de software que funcionam num data center – seja este central ou distribuído para ter maior rapidez de resposta. Este conceito também introduz uma série de benefícios, porque permite escalar a integração do operador. Num outro cenário, quando o operador decide aumentar a capacidade da sua rede, é necessário trocar fisicamente os equipamentos quando chegarem aos limites. Quando temos soluções virtualizadas, é possível escalar aumentado a capacidade do software e dos processadores nos data centers, o que trás muitas vantagens aos operadores. Por outro lado, quando houver a necessidade de fazer alterações a nível das funcionalidades, basta fazer atualizações e upgrades do software que está no data center, ao passo que para fazer o mesmo com hardware é necessária a substituição de equipamento, firmware, etc.
O que é que a Telefónica pretendia com este projeto, e o que é que a levou a eleger a NEC para o mesmo? A Telefónica procurava implementar um projeto-piloto nas suas redes para testar a tecnologia de Open-RAN. Para este efeito, lançou um concurso público para o fornecimento das várias componentes, bem como para a função de integração de sistemas. A nível da integração de sistemas, para a qual a NEC foi escolhida, era necessário fornecer referências que demonstrassem que a empresa terá de facto a capacidade de integrar todas as componentes e pô-as a funcionar de forma harmoniosa e como pretendida, bem como informação sobre as equipas de trabalho, experiência e recursos alocados ao projeto.
O que é que esta tecnologia oferece em termos de otimização de despesas? A otimização de despesa é muito variável dependente do caso - depende da dimensão do operador, do número de sites nos quais pretende implementar, da sua realidade operacional. A virtualização da rede requer que o operador tenha data centers com a capacidade de suportar as funções virtualizadas da rede móvel, o que requer grande capacidade de processamento, especialmente em operadores de maiores dimensões. Se o operador já tiver esses data centers, não vai ter de fazer um investimento inicial tão avultado.
Como é que o Open RAN vai beneficiar as smart cities? No caso das smart cities, o que isto vai facilitar é o deployment das redes 5G, o que vai permitir que a oferta de soluções para os diferentes equipamentos seja muito maior, porque sem o vendor lock-in passamos a ter mais empresas a procurar oferecer soluções. O operador tem uma escolha muito mais diversificada de soluções para implementar na sua rede, isto vai enriquecer a nível de capacidade e de funcionalidades. Como tal, estas funcionalidades de rede 5G vão ser visíveis não só para os consumidores como também para as empresas que oferecem soluções de smart city, que por exemplo precisam de utilizar uma rede móvel para conectar sensores. Assim, estas vão ter a possibilidade de ter redes 5G mais avançadas mais rapidamente e com mais features para conseguir comunicar a informação que a cidade precisa para melhor poder gerir os serviços que faculta aos cidadãos.
Que nível de procura sentem por parte dos operadores para esta solução? Da nossa parte, existe em todo um mundo um grande esforço de promoção destas nossas soluções. Todos os operadores, mais cedo ou mais tarde, terão interesse de testar esta tecnologia – como está a fazer a Telefónica na Alemanha, e Vodafone na Holanda – em testar testar este novo conceito e ver que valor lhes pode aportar. É apenas uma questão de tempo até que todos os operadores comecem a dar alguns passos no sentido de testar e comprovar se esta tecnologia lhes interessa. Também do nosso lado, entendemos que este é um novo conceito, pelo que não é algo que de um momento para o outros será vastamente adotado, especialmente nos tempos que correm, em que os operadores têm de ter alguma cautela nos investimentos face à incerteza económica. A nossa perspetiva é algo que a Open-RAN é algo que chegou para ficar, a standardização e a virtualização são pontos tão fortes para os operadores que penso que, nos próximos anos, vamos assistir a um movimento muito consistente de migração de muitos operadores a nível mundial para este tipo de tecnologia – a um ritmo que depende, obviamente, dos planos, capacidade de investimento e realidade operacional de cada um. |