Fernando Souza, Vice President – Global Segments da Visa CyberSource detalha a tecnologia por detrás do primeiro sistema de pagamento contactless em transportes públicos no País, recentemente implementado no Porto, e o seu impacto na mobilidade urbana
Em julho deste ano, o primeiro sistema de pagamento contactless em transportes públicos em Portugal foi implementado pela TIP - Transportes Intermodais do Porto. Agora, em algumas linhas da cidade, os viajantes dispensam o uso do cartão recarregável Andante, podendo apenas aproximar o seu cartão de crédito ou débito, ou dispositivo de pagamento contactless, nos validadores, sendo a tarifa calculada automaticamente após a viagem e cobrada diretamente. Por detrás desta simplicidade de uso, contudo, está um complexo sistema cuja implementação depende da coordenação de múltiplas componentes tecnológicas e players ao longo da cadeia de valor. Em entrevista com a Smart Planet, Fernando Souza, Vice President – Global Segments da Visa CyberSource, explica a base tecnológica desta solução e o papel que a Cybersource desempenha para possibilitar e agilizar a sua implementação.
Podia começar por uma breve apresentação da Cybersource? A Cybersource é uma plataforma de gestão de pagamentos que ajuda os comércios a aumentar as suas vendas, reduzir os seus custos operacionais e tornar fidelizar os seus clientes. Fazemos isso de duas formas. Primeiro, ao permitir que os estabelecimentos comerciais aceitem pagamentos online em mais de 190 países – não só cartões Visa, como também de outras marcas, bem como carteiras digitais – com uma simples integração com a plataforma Cybersource. Em segundo lugar, oferecemos serviços de valor acrescido como serviços de segurança, prevenção de fraude online e análise de dados. A Cybersource tornou-se pioneira há 25 anos a lançar soluções para que os estabelecimentos comerciais pudessem aceitar cartões de crédito de de débito como pagamento. Em 2010, a Visa comprou-a e integrou-a no seu portfólio de soluções digitais.
Qual é o papel da Cybersource na mobilidade urbana? O uso de tecnologias contactless nos transportes é muito simples para os utilizadores, mas por detrás deste simples gesto está uma arquitetura muito complexa de implementar. Está é composta por quatro componentes. Em primeiro lugar, os validadores nas estações e paragens, que precisam de estar tecnologicamente preparados para aceitar pagamentos contactless. Em segundo lugar está o sistema de back office da operadora de transportes públicos, que vai calcular a tarifa com base em todas as ações do utilizador durante o dia e transformá-las numa única transação financeira, e envia para o terceiro componente – o payment gateway, que é onde entra a Cybersource. O payment gateway vai comunicar a transação ao banco adquirente, que a vai comunicar ao banco emissor do cartão para que autorize a compra. Em suma, papel da Cybersource é fazer a conexão entre a infraestrutura dos transportes públicos e o sistema financeiro. Para além deste papel técnico, temos também a função de reunir todos os parceiros tecnológicos necessários para que a solução seja coesa. Assim, ao reduzir drasticamente a complexidade deste tipo de implementações, projetos que poderiam demorar anos são concluídos em alguns meses.
Como é que isto se traduziu para o projeto do Porto? O projeto do Porto foi inovador por ser a primeira implementação de pagamento contactless em transportes públicos em Portugal. Fizemos uma parceria com a TIP (Transportes Intermodais do Porto), e agregámos os restantes parceiros tecnológicos – a Card4B, que fornece os validadores, o back office Littlepay, que se coneta com a Cybersource, e o banco adquirente em Portugal é a rede Reduniq. O nosso papel foi liderar este consórcio e gerir a implementação para garantir que fosse o mais rápida possível. Isto começou por algumas linhas específicas na cidade do Porto, e agora está planeada a implementação em outras linhas em toda a cidade. É um projeto inovador, não só para o Porto como, também para todo Portugal.
Já existem resultados a divulgar sobre este projeto? Ainda não existem resultados concretos a apresentar, em parte porque ainda é cedo e em parte devido ao impacto que o COVID teve no uso dos transportes públicos. Contudo, penso que em breve iremos ter dados mais relevantes. Observando outras cidades do mundo onde implementámos este tipo de sistema, a aceitação por parte dos utilizadores é muito rápida; depende em parte do marketing e da comunicação, bem como da cultura e dos hábito, mas a experiência de utilizador é sempre uma forte motivação. Em Portugal, num estudo que realizámos, 44% dos inquiridos disseram que usariam mais os transportes públicos se o seu operador oferecesse pagamentos contactless, o que demonstra já um conhecimento da tecnologia. Adicionalmente, 63% dos Portugueses disserem ter pelo menos um cartão contactless na sua carteira, pelo que já estão habituados a pagar desta forma no seu dia-a-dia. Quando se aperceberem que já não precisam de ir para a fila para pagar pelo bilhete, ter entender qual é a tarifa indicada, lidar com diferentes passes e aplicações, e podem simplesmente aproximar o seu cartão de multibanco ao validador, a adesão tende a ser muito rápida.
Estes sistemas têm também aplicações em transportes multi-modais? Aisto chamamos mobility-as-a-service, em que os operadores de transportes oferecem a jornada porta-a-porta de forma muito mais simples, não só em diversos transportes públicos como também em outras componentes da viagem, como portagens e estacionamento, ridesharing e inclusivamente a micromobilidade, com bicicletas e scooters, permitindo ao viajante chegar exatamente onde for preciso. Este é o futuro da mobilidade urbana, no qual as cidades ofereçam esta experiência integrada para os viajantes de qualquer tipo de transporte com pagamento intuitivo e simples, sem necessidades de apps e cartões específicos. Acreditamos, assim, que o pagamento digital contactless é o futuro. Em termos de implementações concretas, este ainda é um conceito muito embrionário. Já existem cidades a integrar isto parcialmente, algumas já estão a expandir os pagamentos dos transportes públicos para o parqueamento ou ridesharing, mas estes são ainda projetos piloto em apenas algumas cidades do mundo. |