A mais recente edição do estudo anual TomTom Traffic Index analisa o impacto da pandemia na mobilidade urbana em 2020, incluindo de que forma a retoma da normalidade pode – ou não – vir a restabelecer os padrões de tráfego originais
A pandemia de Covid-19 veio mudar quase tudo e o trânsito não foi exceção. As cidades portuguesas têm vindo a sentir, desde o início das medidas de contenção aplicadas em março, uma enorme diminuição no congestionamento automóvel. Esta é uma das consequências do facto de grande parte da população ter estado em casa, em teletrabalho ou a acompanhar crianças que não tiveram aulas presenciais no terceiro período letivo. A TomTom monitoriza já há nove anos o fluxo de trânsito nas cidades da Europa, permitindo mostrar aos seus utilizadores como estes se devem movimentar para evitar filas de trânsito e, acima de tudo, dota os especialistas em mobilidade de ferramentas para planear, de forma eficiente, os transportes públicos e a gestão do tráfego.
Mudanças radicaisA queda abrupta no congestionamento de trânsito nas cidades portuguesas reflete-se na plataforma da TomTom Traffic Index, que disponibiliza informação sobre o congestionamento de tráfego urbano em tempo real, em 416 cidades do mundo. Por exemplo, a sexta-feira de 24 de abril em Lisboa, registou uma diminuição de 80% na taxa de congestionamento da cidade em relação ao mesmo dia de 2019. De 14 de março a 18 de junho, o índice de tráfego em Lisboa nunca ultrapassou os 15%, o que significa que numa hora de viagem realizada neste período de três meses na cidade de Lisboa, o condutor nunca demorou mais de 9 minutos do que habitualmente demora na estrada, em comparação com uma situação de trânsito totalmente fluido. No mesmo dia 24 de abril, a cidade do Porto registou também uma quebra de 75% no congestionamento em relação ao ano anterior. Já o Funchal, Braga e Coimbra, que até à implementação das medidas de contenção para a pandemia tinham registado valores mais problemáticos do que em 2019, também desceram abruptamente, com uma diferença de 68, 67 e 59 pontos percentuais, respetivamente, em relação ao dia em análise do ano anterior. Já na última semana, marcada pelo Regresso às Aulas dos alunos em todo o país, a diferença em relação ao ano passado teve uma menor amplitude, mas ainda assim, tomando como exemplo segunda-feira, dia 14 de setembro, registou 32% menos de congestionamento que no mesmo dia de 2019. Nas restantes cidades portuguesas os valores diferenciais foram mais baixos (Funchal 31%, Coimbra 26%, Porto 26% e Braga 23%).
O ponto de viragemOs dados fornecidos pela TomTom também permitem ter uma visão geral do efeito causado pelas medidas de contenção ao longo do tempo. O gráfico abaixo mostra as taxas de congestionamento de 24 de fevereiro, início da semana em que a Direção Geral da Saúde divulgou orientações às empresas, aconselhando-as a definir planos de contingência para casos suspeitos entre os trabalhadores - até 23 de março, data em que o país estava já em Estado de Emergência – sendo possível verificar uma quebra no tráfego que se inicia na última semana de fevereiro.
A recuperaçãoA partir de 15 de junho, o trânsito começa lentamente a retomar, embora ainda longe dos valores habituais de 2019. Os portugueses têm estado gradualmente a retomar os seus hábitos. E entre o transporte público ou uma solução de mobilidade individual, o carro é uma das formas mais seguras de deslocação nos tempos que correm, de forma a evitar contágios. As pessoas estão a retomar alguns dos hábitos que tinham antes da pandemia e os níveis de congestionamento vão, lentamente, ficando mais próximas dos valores de 2019. Ainda assim, nos últimos 7 dias, onde constam já os dados de trânsito da semana de Regresso às Aulas, ainda é notória uma diferença bastante significativa em relação ao ano anterior. Se por um lado o índice de tráfego em horas de ponta rondava os 70% em 2019, este ano os valores são visivelmente mais baixos. No entanto, em comparação com a semana anterior, existe um ligeiro aumento.
Como podemos melhorar a mobilidade urbana?Numa situação pré-pandemia, em Lisboa, a taxa de congestionamento média às 8h da manhã é de cerca de 66%, o que significa que numa viagem total de uma hora, o tempo perdido no trânsito ascende aos 40 minutos. No entanto, uma viagem feita apenas uma horas mais cedo, entre as 7h e as 8h, pode reduzir o tempo nas filas para apenas 17 minutos. No período da tarde, a tendência repete-se. Se o condutor sair do trabalho às 18h, provavelmente passará um tempo extra de cerca de 53 minutos preso no pára-arranca. Contudo, se sair apenas uma hora antes, esse valor diminui para os 37 minutos. As mudanças que têm vindo a ocorrer durante os últimos meses podem ser realmente importantes para ajudar os decison-makers a mudarem o paradigma da mobilidade nas cidades”, comenta Vincent Martinier, Diretor de Comunicação da TomTom do Sul da Europa. “É necessário encontrar soluções de forma a amenizar o frenesim do trânsito e reduzir as filas. Mas a implementação do teletrabalho, mesmo que parcial, pode mudar o estilo de vida das pessoas e democratizar a forma como nos movemos. Também a flexibilidade dos horários de trabalho pode ajudar a quebrar as horas de ponta, já que, no passado, a maioria dos condutores fazia deslocações nos mesmos períodos do dia, congestionado fortemente o fluxo de trânsito. Para os trabalhadores que têm essa facilidade, sair mais cedo de casa e regressar também antes do normal, pode significar uma redução significativa do tempo passado em viagem”, conclui Martinier. |